segunda-feira, 16 de junho de 2008

A Poesia de Ferreira Gullar



Poema obsceno

Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro

o poema-murro
sujo como a miséria brasileira
Não se detenham:

façam a festa
Bethânia Martinho
Clementina
Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
gente de Vila Isabel e Madureira
todos façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão

este surdo poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará

(mas que nasce dele)
Não se prestará a análises estruturalistas
Não entrará nas antologias oficiais

Obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado

o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país

- e espreitam.

(Ferreira Gullar)

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