sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Poesia Criança-esperança

CRIANÇA-ESPERANÇA
"Senhor Deus dos desgraçados, / dizei-me vós, Senhor Deus, / se é mentira, se é verdade / tanto horror perante os céus?"
Castro Alves

Onde se encontra a criança-esperança no céu na terra em qual lugar
nas esquinas das ruas com as mãos estendidas na velocidade do assalto à bolsa da madame na gritaria tresloucada pelo ódio sem sentido "pega o ladrão pega o ladrão pega o ladrão"
onde se encontra a criança-esperança no céu na terra em qual lugar
na trágica história do menino "assassino"
da cutelada na nuca do outro cheio de graça depois a correria agarrado ao relógio dourado tomado do menino bordadinho filho da graça
onde se encontra a criança-esperança no céu na terra em qual lugar
no menino desnudo da roça roçando o algodoal acompanhando o pai enrugado pela labuta
no menino da fábrica tecendo o tecido fino para a mulher faceira do burguês grã-fino
onde se encontra a criança-esperança - no céu na terra em qual lugar
no Ibirapuera da Mercury alegre garota nua
no Roberto-rei dizendo amém'a fúria da ditadura na Xuxa toda tingida sorridente coração pelado alienando as crianças inocentes do meu País
onde se encontra a criança-esperança no céu na terra em qual lugar
onde estão os reis da glória e do dinheiro dos esportes dos jornais do rádio da televisão
por que não gritam novamente olhando para o alto despidos da hipócrita ganância do prestígio efêmero
"Senhor Deus dos desgraçados, / dizei-me vós, Senhor Deus, / se é mentira, se é verdade / tanto horror perante os céus!"
Deus, ó Deus de todos os meninos-pobres-diabos dizei-me vós se existis será verdade ou será mentira este dantesco espetáculo esta febre maldita e vil
que envenena entorpece as mentes para depois matar será verdade hipocrisia não será cruel mentira
o Renato Aragão proclamar aos mil e quatro ventos
"a partir de agora a violência não fará mais parte ativa da vida e dos passos de nenhuma criança"
dois mil anos de Renatos de mentiras espalhadas dois mil anos de fome de Xuxas violência e morte balança Mercury nua "é bonita é bonita é bonita" - é bonita?
a prostituição rebola a bunda na boquinha da garrafa - é bonita?
os meninos-pobres-diabos vão crescendo vão crescendo em meio à miséria à mentira à violência e à morte fria vão se refinando em capitães de areia capitães de fato da luta revolucionária da libertadora guerra proletária
- então somente então se farão crianças esperanças feitas homens valentes guerreiros de seus destinos
e os Renatos as Mercurys coxas nuas os Robertos-reis falazes serão apenas recordações dos saudosistas do passado negro enrolados na bandeira de uma Globo de memória soçobrada no implacável tempo da poeira da história maltratada.
Manoel Coelho Raposo